Poema: Borra

BORRA

Vou ler o teu destino

Na borra do capuccino.

Nós dois enfumaçados

No tempo-açúcar-cristal.

Premonições e vapores

Na fumaça de um café

De máquina.

León Bloba

Poema: Notícias 2

NOTÍCIAS 2

"Ninguém reclama..." 

- todos reclamam.

Tem aqueles que saem

e nunca mais voltam.

Há memória encapsulada,

"foto de mil oitocentos e pouco",

"um brinquedo que eu tinha".

Há, há, sempre haverá, já.

Morre quem fala 

e a fala reclama.

E fica

na boca

de quem

dita.

"Ninguém reclama..." 

- todos reclamam.

Há muitas notícias no mundo.

Leitura em diagonal

como um corte cotidiano.

Eu sonho com uma casa de duende

beijando o rio, a rocha e o solo.

Amor é paisagem

e os detalhes estão dissolvendo.

Há tanto cansaço,

mas tanto amor,

que ninguém reclama.

"Todos reclamam".

Marcelo Asth

Poema-descrição do feed de notícias: 19  de abril até 23 de abril, às 20h50

Poema: Fruta

FRUTA

Kathy Ruttenberg

Quando eu como um pedaço de árvore,

como uma fruta,

mastigo a mim mesmo.

A existência é uma química.

Minha

Molécula eufórica

imita a Deusa da Dança.

Vou passear pela terra,

infiltrando nas raízes do mundo,

sugando a seiva das selvas

de que se formam por dentro

dos átomos.

Ramón Belloin

Poema: Notícias 1

NOTÍCIAS 1

Uma criança negra bebe o leite,

alguém reflete sobre a fome.

Uns tem saudade,

outros imaginam.

Há formas de iluminar

e decorar um espaço.

Um camundongo em chapéu de flor

desperta o riso.

Uma mulher se exibe no espelho - 

ela é tão elegante.

Há amor e liberdade,

uns fazem sexo.

Há divulgação da arte

com valor monetário.

Há pessoas se unindo.

Há sucesso em sucessão.

Há miséria e pensamento:

Paz na terra, amor, paixão.

Marcelo Asth

Poema-descrição do feed de notícias: 11:40 até 11:57

Poema: Água

ÁGUA

O teu sorriso rouba minhas cascatas

e o verão se torna mais ameno.

Se antes era um córrego pequeno,

hoje revolve alagando matas,

cobrindo o solo, bebendo sereno.

E os teus gargalos. 

Teu ser, sumidouro...

O teu sorriso mostra o meu tesouro.

Se escorre fundo à terra em leito aquoso,

e cai dos olhos feito catarata.

León Bloba

Poema: Contagem

CONTAGEM

Podia passar minutos perdido, calado...

Um. Dois. Tresloucado.

E meu pensamento longe.

Podia me engolir

em gestação:

Viver de mundo,

saúde e amor,

esquecendo os segundos.

Minha alma em ânsia,

lâmina fria a cortar o tempo

pela raiz -

até quebrar o elo com a terra.

Foice assim, afiada, pronta...

Quatro. Cinco. Ceifa.

Podia viver moço um século,

sem trocar a casca que trago e entrego aos outros.

E meu pensamento longo.

Podia passar milênios fora de mim, de lado...

Sete. Oito. Nove. Desligado.

León Bloba