segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Você veio primeiro


Você veio primeiro.
Antes de existir, já existia
no canto de um pássaro inquieto,
nas águas mais apressadas,
no sol do mais vivo janeiro
e no vento-redemoinho
do mês do seu nascimento.
Reinaugurou a palavra amor
e deu a ela o redondo de um ventre.
Forçou os limites do abraço
e instalou riso e canto
nos ecos de suas palavras.
Você veio primeiro.
Sou eu a sua caçula.
Perdoe a minha insegurança
e dê sua mão de mais velho.
Me ensina a domar o fogo,
me ensina a pisar nas brasas
com a mesma graça.
Me ensina onde se esconde a alegria
e, se puder, me guia
até a morada de estrelas
em que repousa a sua cabeça.


29/6/2013


De Daniela Asth para Marcelo Asth

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Tombem

Que as crianças tombem -
Para aprenderem a andar.

Que também tombem os fortes -
Para conhecerem os fracos.

Que também tombem tumbas -
Para procurarem o espírito.

Que também tombem portas -
Para descobrirem formas.

Que também tombem mundos -
Para serem transformados.

Que também tombem Nada -
Para Tudo.

Teodoro Tombem

Poema: Percepto

PERCEPTO


Eu não acredito mais em nada:
Eu acredito eu tudo.
Entre indas e vidas,
Rodopiando mole como plasma,
Vendo tudo o que é pulso:
Fractais rosas máscaras tribais
Veado sapo coisa que não é descrita -

Tanta coisa distinta e
tanto tenta a tinta tonta,
Que titilo, cintilo ao senti-lo tinindo.
Mistério se apronta.
Tinha certeza - inda tenho dúvida...
Dádiva da vida - inda tenho dívida...
Abre um buraco e um mundo
Mente multidividida.

Ellós Forbetor

Poema: Muda

MUDA




Muda para plantar
Miúda muda surda
Espera cega enraizar
Muda duma árvore
Dura como mármore
Espera paciente
Muda a transformar

Raiz de muda afunda
Busca ar sob o chão
Água lhe toma inunda
Engrossa sobe do chão
Abduzida pelo sol
Presa no solo
 Entre energias
Nutre muda vira árvore vida
Semente muda
Somente muda
Para plantar

Pai Mulato

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Cavuca

Regando a terra que tenho que cuidar, participando da terra, na responsabilidade de cavucar a própria pele, a terra revirar, estando minhoca viva e presente, molhando o próprio duto no solo, cavando pra dentro de si mesmo, fazendo encontrar a luz, a réstia do sol bebendo o espírito. Trator da vida, derrubando tudo sem destruir, reciclar, fazer o movimento brotar, deslocar para caber, o caule ou qualquer outra coisa aparente. Tudo que se cria, brota, renova e pode ser banal por ser mais uma plantação, mais uma criação, mas criar é um espanto, é novidade sempre que se pode ser. É preciso responsabilidade para se plantar, terraplanar, terra plana, plena, tudo o que se cria se oferenda, oferta pros deuses que não tem nome, que moram no esquisito silêncio que não podemos ouvir. Pode-se abrir o ouvido da terra e plantar eternamente no silêncio. Pode-se comer a terra, se enterrar com impulso pra baixo, mas terá de se nascer, brotar, resplandecer. O intuito de tudo deve ser coerente, não no que se faz sentido, mas tendo por obrigação que ser verdadeiro.