sábado, 30 de junho de 2012

Poema: Cinco momentos de cansaço

CINCO MOMENTOS DE CANSAÇO


1.

Sistema de voto-contínuo.
Perpétuos
Eles são.
Prisão em reprise.
E leis são 
Insanas.
Sistema de veto-contínuo.

2.

O gado pastando,
cagando e andando,
sereno. 

3.

Pra que distribuir passado
se só pensa no futuro
do progresso condenado? 
Pra que distribuir presente
se o povo só se fode
com o embrulho do presidente?
Pra que prometer dentadura
se não rola uma comidinha
depois da candidatura?

4.

E esses putos 
que gostam de foder com o povo -
no pior dos sentidos...
e ainda assim,
vão se reproduzindo.


5.

Urna-funerária-eletrônica:
voto em vão -
zerésima agônica.

Marcelo Asth

sábado, 23 de junho de 2012

Poema: Memento Mori

MEMENTO MORI




Por um momento morro,
incide em mim o sinistro.
Um sino de badalo óbvio,
destino do meu início,
arrepia os meus cabelos
e exala segredos de exício.


A língua do sino me fala,
(me cala reverberando)
os planos dos anos que passam,
os passos que vão se somando
no vício de me rever beirando
A trilha do precipício.
E o sino reverberando
desde sempre um indício...


Me toma essa estranha calma...
Num torto tom de conselho,
poderia a minha alma
acalentar-se ao espelho.


Falaria falácias fáceis,
em ganas de enganar-se a esmo.
Procuraria muitas respostas,
só perguntaria o mesmo.


E cada antepassado
passa no reflexo do espelho -
e eu me relembro de todos
nos momentos que revejo.


Trinta gerações distantes
vão passando no meu medo.
E vem me sorrindo à fronte,
à frente de quem me vejo.


E fortes vão tremendo os sinos,
meus ossos em eco lembrando.
Tudo é memória e destino.


Me calo reverberando.


Marcelo Asth

domingo, 3 de junho de 2012

Poema: Drama

DRAMA

Tudo é drama
nessa sucessão de socos,
tudo é lama
no que emperra o passo,
tudo é cama
num esgotamento enérgico,
tudo emana
num ritmo esquisito.

Maria Grün


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Poema: Bolo

BOLO



Bateu aquela pena de mim
como quem bate claras em neve,
num tempo de preparo em solidão,
revendo angústias na batedeira.
O forno já está quente como um coração
e a alegria está na geladeira.

Quando você vem com a memória de farinha,
já vou com o bolo que aperta lá no fundo. 
Me vem um choro de manteiga derretida -
não sou de pranto, que eu sou de açúcar.
Não há ingredientes pra fazer felicidade,
que essa receita já está batida.

É fogo... mas não tenho uma fôrma apropriada
E nem me esquento, que eu unto a dor.
O bolo que preparo tem receio doce.
E o bolo cresce, o bolo fermenta...
E fica enjoativa essa angústia de detalhes,
que é granulada a tristeza em guloseima. 

O tempo de preparo 
para o mundo é tão incerto
que todo esse bolo
sola e queima.

Marcelo Asth