quinta-feira, 27 de junho de 2013

Poema: Gangorra

GANGORRA

De um lado da boca,
Uma parábola ascendente.
Do outro lado, 
outra, descendente.
Uma gangorra desenhada em linhas
Decadentes.

Efervesce espumando 
cólera, 
alegria, 
gozo 
e medo,
Um coração que testa a si mesmo
Subindo e descendo
Os lados da mesma gangorra,
Condescendente.
 
E que transborda,
De repentemente,
Da borda da boca
E dos dentes.

Plínio Xavier

sábado, 15 de junho de 2013

Poema: a grande aranha

A GRANDE ARANHA

Imagine uma aranha-gigante -
Mas gigante mesmo! -,
Maior que o Pão-de-Açúcar.
Ela anda pela cidade,
Mas não é como monstro de filme.
Sua passagem gera comoção
E o impacto das patas no solo
Promove estrondos que ecoam
Como trovões distantes
De tardes mansas.

Oito muletas.
As pessoas apenas desviam
E saúdam a aranha e batem palmas...
Ela passa gigante e lenta
Por cima das ruas,
Dos carros,
Da cidade.

Calçadas permanecem plácidas.
Nada se altera.
A grande aranha entra
Na Praia de Botafogo
E parece que segue
Para a Baía de Guanabara.

Marcelo Asth

terça-feira, 11 de junho de 2013

Poema: CenáRio

CENÁ RIO

Essa liberdade que dói,
Falsamente esculpida.
Mortos nas gaiolas
Os pios de uma juventude esquecida.
A alfombra do tempo
Levemente revirada -
Os anos voltam como espirais.
Cerceadamente o gavião sobrevoa
E povoa de sombras
Os traços das ruas repletas.
A paz é apenas migalha de alpiste,
Pastiche de felicidade.

Éramos todos pulso
Na carne da cidade perdida,
Voando pelas ruas em busca de ar.
Essa revoada desmedida
Em meio a um erro de lástimas,
Essa brutalidade, essa pedra bruta
Retirada das paredes rasgadas.

Esse peso mal lapidado
Retrata em suas faces os tantos
Que se expõem no brilho
De um sonho.

Marcelo

domingo, 9 de junho de 2013

Poema: Espirais


ESPIRAIS

Surdo como o tempo
Nas borbulhas secretas do poente
À espera dos seres que me bebam
Lançando em espiral minhas partículas
Pros ontens, pros aléns,
Pra qualquer esfera estremecida.
E de lá os bumbos dos peitos
Recordarão do meu nome
E farão sentido 
Quando o sereno silencioso
Tudo consumir em mim.

Marcelo Asth