MÃO À PATA
Não matar um leão por dia:
domá-lo sem chicotes,
sem provocação do medo
no arremedo do poder.
Encará-lo e ver lindos seus dentes,
sentir seu bafo de fera,
seu sangue de raça
e sua alma de terra.
Ver Deus acenando em sua goela -
prova viva do respeito mútuo.
Tocar sua juba deserta, seca, vistosa,
acariciá-lo com mãos de uma árvore dura.
Fazer dos olhos um espelho
e mostrar seu dentro -
que lá há um leão também brincando savanas,
há bestas sonolentas e outras panteras
roendo a carne do seu pensamento vivo.
Deitar ao seu lado
dando mão à pata
narinas ao focinho,
reconhecendo,
se apresentando à força
no brilho
ponderável
da presença.
Forte selvageria atávica,
virar bicho,
virar sereno,
veneno,
mato,
flor,
trigo.
Não matar um leão por dia, nunca.
Amá-lo na rigidez dum rugido.
Marcelo Asth
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