sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Poema: Espera

ESPERA

Estuporado a esperar,
estuprado na pausa,
parafraseando a dor do poeta.
Para se pôr como cometa,
rasgando o espaço,
queimando os gases
e reduzindo-se a pó.

Marcelo Asth

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011



ZEBRA


Quando luz surge na sombra
quando o corte porta a luz
secciona iluminado
um feixe aceso e outro desligado
a parede reflete a faixa indecisa
decide incisar meio iluminada
divide-se incisiva no escuro
a réstia penetra a brecha e o furo
e beija o resto da parede, projetando o muro
o corpo opaco intercepta a claridade com apuro
voraz diagonalizada na tez que se faz zebra
sombra que desmaia a luz na lombra
rasgo que conduz o sol que engasgo
raio que pinta a ponta em pretume
de repente se passa num pente o lume
ilustra listras preto-e-branco e se resume

Marcelo Asth

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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

DIZ

Diz pra mim se você me espreitava sem medo,
Diz pra mim se você me esperava tão cedo,
Diz que assim eu matava sua sede,
Diz que o embalo era bom em minha rede.
Diz que a gente queria sentir.
Se ressente se a gente mentir.
Mas você, por favor, se disser, não me mente.
Deixa o rio correr em corrente,
Deixa a chuva do céu em torrente,
Deixa a boca dizer tua palavra
Pra eu saber que por mim você sempre esperava.

Eu queria ser sempre profundo,
Eu queria ser pra você todo o mundo,
Mas querer ser assim é demasiado estranho.
Eu queria entrar em toda tua entranha
Pra ver se me soma na mudança que ganha.
Eu queria ser mais que teu sonho,
uma realidade de alegria tamanha. 
Eu queria que eu fosse a sua loucura
Pra saber se meu peito de hospício te atura.  

Diz pra mim se me quer pro futuro
Que assim me preparo pra ver se me aturo,
Me embalo em presente pra abrir mais pra frente.
Diz pra mim que a gente se sente.
Diz num verso que eu era desejo,
Diz intenso que eu era solução,
Diz no ouvido que eu era um cortejo,
Um ensejo, gracejo, mil vezes beijo
E não solda no furo da solidão. 

Marcelo Asth

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Poema: Submersão


SUBMERSÃO

Um vento que bate no poço do ouvido
Adentra o interior íntimo
E varre por dentro toda a bagunça,
Afungentando o que é ínfimo,
Fazendo de dança toda a pujança
Que infiltra como água.
O nosso amor é um sussurro manso,
Um remanso de água que empoça,
Onde fazemos tudo que possa
Fazer em nossa submersão.
Um açude, um manancial,
Todo receptáculo que se preencha de nós.
A gente nada, a gente tudo,
Festiva-se como em entrudo,
Aguados de carnaval.
Nosso amor se faz oceano
E banha a praia que em você espreito,
Sendo toda a espuma que borbulha
No ensejo do nosso desejo de água e fagulha.


Marcelo Asth