BODAS
DE SANGUE
Lá vem a velha
requitivelha
Com a navalha para
esconder...
Seu outro filho
morreu em batalha -
foi a navalha que o
fez morrer.
Seu filho novo
tornou-se noivo
De uma mulher que
quis o inimigo
Em seu passado tão
mal passado
Que foi buscar pra ti
um mais amigo.
Lembra que quando de casa
sair,
Sai então como
estrela.
Fartura de uva e
rami!
Os frutos nascem para
vê-la.
Tão bela noiva, tão
desgraçada.
De um homem, de
braços pobres
Para um braço rico
que trabalha
Pra juntar seus ricos
cobres.
Mas o amor - que
traiçoeiro! -
Vem a galope num
trote de arqueiro
Que em movimento
acerta o peito em cheio
E trás de volta a
moça ao seu recreio.
Então a nora vai-se
embora
(é seu destino e
agora chora),
Com um felino, pai de
um menino
Que nesta hora está a
ninar.
O cavalo não bebe
mais a água,
A navalha não desfaz
a mágoa.
Põe-se a triste mãe
então a chorar.
Lá vem a velha
requitivelha,
Não tem navalha para
esconder...
Seus pobres homens
foram em batalha,
Com a navalha que os
fez morrer.
Marcelo Asth
(2007)