segunda-feira, 27 de maio de 2013

Poema: Quero


QUERO

Quero de Lorca, seu gris,
A melancolia de Clarice,
De Quintana, sua velhice,
De Vinícius, o amar feliz.
Quero a delicadeza da flor
Que é bela, mas me espanca
Com sua poesia.
Quero um mar de palavras
E eu, sendo ilha,
Brincarei nas ondas dos versos
Como fazia Cecília.
Escreverei minha tragédia,
Transcreverei o meu fardo
Com os arabescos das letras
Da pena do Bardo.
Quero a canção para o filho do rei
Que a aia de Quintana cantou à noite.
De Castro Alves, quero o açoite,
Que é seu grito pra liberdade.
Quero saber toda a verdade!
Quero cantar a primavera!
Quero os vermes de Brás Cubas
No enterro de minha última quimera.
As idéias novas de Arnaldo Antunes ou Melamed:
Eu quero! Eu quero! Eu quero!
Mas eu não sei a quem se pede.
Quero as pessoas de dentro de Pessoa,
Cada uma com um jeito.
Quero todo o amor do peito
De todos os versos que ouvimos,
Toda a dureza que lemos
Em Lara de Lemos.
Ouvir estrelas com Bilac,
Ter a esperança de Drummond,
De Gullar, o ataque
E rimar o que é bom.
Estarei sempre querendo,
Querendo atingir minha meta
E talvez com tudo isso,
Um dia me torne um poeta.

Marcelo Asth
(2004)

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