domingo, 27 de março de 2011

Poema: Horizonte

HORIZONTE

tenaz e furioso
o horizonte que queima por ser visto
o instante é agora;
tem que se olhar -
um piscar é um titubeio.

galga por linhas obscuras
buscando sentido de busca
frívolas maquiagens de ser
quem sou
quem é
quem espera?

não há motivo pro vexame de não me chamar.

se eu fosse coragem
morria.
de desespero
de ironia.

talvez por amar ser castrar a origem
pra se fundir a outra linha de tempo.
profícuo profundo
do abismo

não sei contar os minutos.

à exaltação um brinde:
é preciso admirar.

León


Depois de chorar por um dia inteiro, tomei a coragem de postar um poema de León. Ele por fim chegou a mim da mesma forma misteriosa que outros poetas se manifestam. Horizonte me fez olhar por mais de uma hora pela janela, com olhos baços. Em algum ponto se perderam. Perduraram. 
O poema chegou no verso do papel de pão com meus 6 pães franceses. Ao pegar o primeiro pão pra comer com a mortadela que também comprei, reconheci a letra de meu irmão por dentro do saco de papel fraco. Perdi o apetite, chorei e sorri ao mesmo tempo. Guardei o poema onde ele dormia: na cama de cima do beliche. Hoje não vou conseguir dormir.

Bloba.

Poema: Grito

GRITO

Podendo estourar 
a garganta gritando,
espalho o que a voz
não pode comedida.
Todo o amor que dá pra um vida
encontra sentido, 
manifestação.
Em festa que atesta
o que não dá pra sintetizar,
dou vazão ao que mais amo
explodindo o ar. 

Marcelo Asth

sábado, 19 de março de 2011

Comunicado de Bloba

É estranho receber poemas por debaixo da porta. Mas o que é mais estranho, e que acontece agora comigo, é deixar que o estranho se torne comum, que a carta secreta e mágica pareça um envelope postal. Mas a caixa de correio não é debaixo da minha porta! 

No momento, a tranquilidade do que é estranho já se instalou. Nem estranho é mais. Agora já se tornou uma prática mais distante. Nem recebo mais todos os dias, como antes. 

Vim aqui pra dizer que além dos poemas de Marcelo Asth por debaixo da porta e os poemas de Dinorah Lima dentro do forno (que foram poucos), agora a cama de cima do beliche fica desarrumada, quando eu acordo. O feitio de um corpo que acaba de acordar, a impressão do peso de uma pessoa que dormiu ali. Fico pensando se meu irmão León voltou. Seu espírito deve trazer os poemas.

Sem mais,
Bloba

Peoma: A Estrela e o Vagalume

A ESTRELA E O VAGALUME

É uma coisa de estrela
que pisca o pó neon estelar
e consome o universo num abraço.
Astronauta vagalume
assemelhando ao que lampeja
interrupto.
Em tempo rapta a luz
o noctiluz vagando, se apaixona.
E sobe lento pra alcançar o alto céu,
incansável em hipnose se ludibria,
não sabendo se a luz que brilha
se indecide por ser um pouco de noite e um pouco de dia.

Marcelo Asth 

quarta-feira, 2 de março de 2011

Poema: Leito

LEITO

O morro se veste de névoa
e eu me dispo em prazer.
A cabeça em teu peito,
me ajeito no leito,
com jeito de me oferecer.
A noite nos cobre,
envolve em seu manto
e minhas mãos descobrem
com tato o contato do corpo em cada canto.
Tua imagem noturna
rufulge tanto 
que meu olhar não foge
do seu encanto.

Pois se enfurna.


Marcelo Asth