terça-feira, 27 de setembro de 2011

Poema: Roda da Desafortuna

RODA DA DESAFORTUNA

Eu sigo a moda dos errados,
eu giro a roda da desafortuna.
Eu faço a foda dos tarados,
eu meço a poda dos galhos quebrados.
Eu canto um verso calado
e o que me sobra é a surda alegria.
Eu faço votos que o passado
seja talvez a minha companhia.

Marcelo Asth

Poema: MIM

MIM

Por tanta porta roída,
tanto cupim.
Pra cada rota esquecida,
muito capim.
Pra cada voo assustado,
muito jardim.
Pra repousar o meu rosto,
pausa de mim.

León Bloba

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Poema: Deus

DEUS

ouvi tuas preces para enxergar meu mundo
mas fui astuto em não saber de divindades
mesmo calado, feito santo esmorecendo
feito de mármore o teu deus vai renascendo
                  
é tão veloz toda a freqüência de um sussurro
veio num sonho navegando feito anjo
me colocou entre as paredes sufocando
e disse o tédio, o pejo, o ódio de momento

mas mesmo assim o teu altar merece velas
não para mim, que já toquei fogo no instante
é tanto ardor nas orações em que fervia
que minha imagem de cristal cedeu ao fogo

é tão velado o teu canto, tão profano
é sopro, pífano, fagote e cangote
onde imagino tua reza devotando
feito gaivota sobre um mar de roxo único

é peso bruto de uma estátua que admira
em meio à praça onde passam retumbando
todas lembranças que acenam pro meu pranto
me prometendo que não há nada acontecendo.

mas mesmo assim o teu olhar merece pétalas
e jogo rosas pra que atinjam este instante
é tanto amor e adorações que eu devia
que esta paisagem me esmagou tão delirante.

Marcelo Asth

Poema: Tanto Medo

TANTO MEDO

Deu tanto medo
Vou dizer
Deu tanto medo
Deu tanto espanto
Deu quebranto
Deu no nervo

Refiz meu pranto
Pra chorar
Quanto mais cedo
Mas vou dizer
Deu tanto medo
Tanto medo

Quando na cara
Se revela um segredo
e tudo para
apontando em mim um dedo
pra me chorar
refiz o espanto
engano ledo
me deu quebranto
deu no nervo
tanto medo.

Marcelo Asth

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Poema: Flecha

FLECHA

Se me desentendem
Sofro um pósconceito.
Pois que eu já fui, vim, voltei
E reinei ressignificado.
As pessoas têm paredes
E as paredes têm ouvidos.
Eu nunca.
Se eu parasse pra ouvir a mim,
Calaria.
Sou carregado de brecha
E trespassado de flecha,
Deixando assim
Vazar toda a luz
Que concentrei dentro do corpo,
caixa escura.

Virgínio da Calêndula

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Poema: Cócegas

CÓCEGAS

Quando, às cegas, na noite tateia,
Meu corpo alegre em cócegas ri.
Teus dedos vêm contar-me uns segredos...

Me convulsiono, tímido a descobrir
Que esses dedos contam-me convites
Pra passear em ti a nos sentir.

Parte de mim treme terremoto
E de minha boca saem estrondosos risos,
Quando teus dedos por mim passeiam
Despertando a pele em teu terreno liso -
Que se disfarça em pêlos assustados
E se reveste cheia de bolinhas.

E de tanta cócega e cosquinha,
Me acostumo e controlo o tremor
Ao repousar a tua mão na minha.

E os dedos,
A tatear torpor...

Marcelo Asth