sábado, 26 de maio de 2012

Poema: Acordo

ACORDO


Cri, cri, cri
no mistério dos grilos
e no silêncio noturno
dos rebanhos.
Cri no que vi 
ao deixar a cabeça sorrir
e voar.


A noite estrelada deixa zonzo
e o pensamento em cada árvore viva do mundo,
todos os homens nos grandes centros
são como borboletas aflitas em acordo.
Cri no bater de celofane,
cri nas crises do homem.



Cri no que se refastela
e se esfacela em acreditar.
E crendo, crendo, crendo,
me vi doendo de tanto acordar.

León Bloba


Imagens: The White Deers

Poema: Lesma

LESMA



prorrogar o caminhar da lesma 
é corroborar com o enjoo 
do rastro, da baba, do grude
que vai fixando a palavra.
toda lesma é verborragia,
mil palavras à toa na resma
de folha, de fôlegos, de ais.
toda lesma é a mesma
história, lero-lero -
e o quero-quero a salivar.
locomove como move louca,
nojenta escorrega a fala. 
vomitar.

León Bloba

Poema: Impressão

IMPRESSÃO
Tive a forte impressão
não impressa.
Foram horas me olhando
por dentro,
sem pressão, sem pressa...
descobri com precisão
que minha grafia era promessa.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Poema: Contrato

CONTRATO


Hiroshi Tanabe

Perdi o tino
e assinei a sina.
Cadê o destino
que me assassina,
me corrói roendo,
corrompe em surdina?
Nas linhas da mão
se abrem abissais
rubras rugas de um contrato
onde rubrico ais.

Marcelo Asth

Poema: Entidade

ENTIDADE
Na encruzilhada, 
sobre a farofa servida,
a multidão de formigas
devora imperiosa
e vira entidade.

Na encruzilhada,
seres invisíveis 
se atrelam às luzes das velas.
E os faróis dos carros que cruzam
transversais e paralelas
não focam nos reais segredos
da cidade.

Joaquim Ramos - Nhô

terça-feira, 22 de maio de 2012

Poema: Maio

MAIO
Meio de maio
desmaiado à esmo.
Assim mesmo caio
junto ao mês sem freio
tendo outro meio inteiro
que já permeio cheio.
Saio do calendário
sem nenhum receio
e também me desmaio
me partindo ao meio.

Marcelo Asth

sábado, 19 de maio de 2012

Poema: Dionisíacas


DIONISÍACAS

Os tragôidos vão arrombar o mito!
Dite os rombos da estrutura
pro poeta costurar.
E os deuses confirmam o escrito,
arranjando a tessitura
pro ator se mascarar.

O coro vai comer o protagonista...
onde o bode amarrou o poeta?
Dionísio vai sacrificar o artista
embebedado em ritual de festa.

Vida de duplicidade, 
destino ambíguo, hermético:
O Oráculo de Delfos invade
o vitelino umbigo de Édipo.

Tirésias diz que esse finge,
que tudo sabe mas que é cego...
que fez acordo com a Esfinge
pra tornar-se o seu corego.

Debate de duplos na orquestra:
trabalhando seus discursos,
Édipo e Clitemnestra
preparam-se para os Concursos.

Discutem projetos de leis
que têm diferente fonte:
A dos deuses ou a dos reis?
Respondem Antígona e Creonte...

Da dita para a desdita,
no decorrer da trama
do dito pelo não dito,
comenta de forma aflita
o coro que assiste ao drama -
mesmo o que já foi predito.

Tragédias à parte,
comédias à tarde...
Dionísio só faz arte
com aquele que com ele arde.

Prepara-se o corpo corálico
cantando que falo em orgia.
Derrama-se nos cantos fálicos
antes da tetralogia.

Marcelo Asth

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Poema: Desgrécia

DESGRÉCIA


O Minotauro sofreu de labirintite.
Teseu perdeu o tesão - correu para o Viagra.
"Câmera IndisCreta" na Internet com Afrodite.
Fizeram agora um shopping no meio da Ágora.

Aquiles teve que amputar a sua perna.
Hércules disse que tá atrás de um trabalho.
Foi trabalhar no circo a Hidra de Lerna.
Virou moda o Leão de Neméia como pele em agasalho.

Prometeu bebeu - fudeu, deu problema de fígado.
Helena posou na Playboy e perdeu o posto de musa.
Deu câncer de pele o sol que bronzeava Ícaro.
Perseu perdeu a cabeça por decapitar Medusa.

"Ulisses é o maior fura-olho" - disse o Ciclope aos jornais.
Cronos virou atleta e vai correndo cada vez mais.
Ares trabalha na ONU com questões que envolvem a paz.
Na Assembleia do Reino de Zeus todos somos imortais.

Desgraça na Grécia
Destrói a Tróia na nóia
E até as ruínas de Atenas
têm problema de memória.
Monte o limpo destino de maneira contraditória.
Todo Herói caduca depois de contar sua História.

Marcelo Asth

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Poema: Pressente

PRESSENTE
e apenas sinto.
Sinto muito,
estou também presente.
Pressente que o mundo é grande,
mas que dentro dele não caberei pra sempre.

León Bloba

Poema: De repente

DE REPENTE
De repente, quando você menos espera,
você espera, espera, espera...
E quanto mais se demora,
mais hora, mais hora, mais hora.
E quanto mais se irrita,
mais grita, mais grita, mais grita.
E quanto mais se acalma,
menos alma, menos alma, menos alma.
De repente, quando você mais age,
mais coragem, mais coragem, mais coragem...
E quanto mais você se desespera,
mais guerra, mais guerra, mais guerra.

Marcelo Asth

Poema: Questão

QUESTÃO
Não tem porque insistir.
Terá porquê querer?
Vale a pena fugir.
Refugiar pra quê?
Tem horas que eu canso.
Terei que lhe dizer?
Cansei do jeito manso.
Imensidão, pra quê?

Alba Hümms



Alba Hümms. Seu poema me apareceu hoje, quando eu estava chorando. Antes de eu assar um bolo. O poema estava dentro da lata de farinha.

Bloba

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Poema: Instagram sonho

INSTAGRAM SONHO
para Rafael Rodrigues

Abrir os olhos
e ser sonhando...
nos raios que cobrem a montanha,
as nuvens despencam avalanche.
As árvores cruzam e abraçam,
as cores derramam no instante.
Um carro antigo numa calçada
é um atrito entre tempos.
Abrir os olhos
e ver você
sonhando...

Marcelo Asth

Poema: Naco de lua


NACO DE LUA
Vamos jantar naco de lua.
Naco de lua.
O lúdico arco íris no lençol,
A íris arrebenta o arco nua.
Barco flutua.

Vamos flutuar pelo destino.
Vamos perambular por uma rua.
Pelada lua.

León Bloba 

Poema: Canto Demiurgo 2


CANTO DEMIURGO 2

Cerveja como as coisas são...
Bacardisse para mim:
- Absinto-me de me sentir.

Cachaçassinou a voz da razão:
- Amarulalá! De onde eu vinho?
- Sigo o meu próprio rum.
- Sigo o meu próprio rum.
- Amarulalá!
- Sigo o meu próprio rum...
Ypiocacreditei...

Curaçau pegando fogo.
Aguardente por dente.
Olho por olho
Vermute ver.
Pinga  
destilado de cá.

Champagníma, seus olhos, manhã...
Espumantes do sol nascer!
Camparia pelos copos
E pelas taças quebradas.


Alcóolinas de Teresópolis:
Vodkarro,
Tequila pro Rio...
51 km de estrada
De embriaguez.

Saquê que tem?
Whisky tem de bom?
Licorrendo o recado -
Cerveja como as coisas são.


Cíntia Luando, Lucas Nascimento e Marcelo Asth

em 06 de maio de 2012