sábado, 19 de maio de 2012

Poema: Dionisíacas


DIONISÍACAS

Os tragôidos vão arrombar o mito!
Dite os rombos da estrutura
pro poeta costurar.
E os deuses confirmam o escrito,
arranjando a tessitura
pro ator se mascarar.

O coro vai comer o protagonista...
onde o bode amarrou o poeta?
Dionísio vai sacrificar o artista
embebedado em ritual de festa.

Vida de duplicidade, 
destino ambíguo, hermético:
O Oráculo de Delfos invade
o vitelino umbigo de Édipo.

Tirésias diz que esse finge,
que tudo sabe mas que é cego...
que fez acordo com a Esfinge
pra tornar-se o seu corego.

Debate de duplos na orquestra:
trabalhando seus discursos,
Édipo e Clitemnestra
preparam-se para os Concursos.

Discutem projetos de leis
que têm diferente fonte:
A dos deuses ou a dos reis?
Respondem Antígona e Creonte...

Da dita para a desdita,
no decorrer da trama
do dito pelo não dito,
comenta de forma aflita
o coro que assiste ao drama -
mesmo o que já foi predito.

Tragédias à parte,
comédias à tarde...
Dionísio só faz arte
com aquele que com ele arde.

Prepara-se o corpo corálico
cantando que falo em orgia.
Derrama-se nos cantos fálicos
antes da tetralogia.

Marcelo Asth

Um comentário:

  1. Réminiscence d'une fable existentialiste
    Se leio o absurdo da voz que me devora
    Se saio aos rodopios praguejando meus pares
    Jogo-me no cancro ferrugem em feridas em brasa
    Se olho o tempo voltando do nada
    Despedaçando meu destino confinado
    Calado nervoso me disperso
    E na escuridão do abismo me choco
    Impassível às avessas abestalhado cansado insípido
    E no nada me refaço já que a ruína já foi um palácio
    Nenhuma gravidade nos fatos
    Cotidiano suspenso no espaço
    Mas tudo fica sólido onde passo
    Com pés pesados atados às ervas malditas
    Soslaio mirando o funil das larvas trementes
    Maltrapilho indigente deslizado presente
    Aos zincos perambulo na noite infame
    Mandrágoras sussurram meu nome
    Turbinado clarão de espasmo movediço
    Marejado sofrer eterno cambalear na beirada do caos
    Cripta da saudade degela as epidermes necrosadas da alma
    Decrepitudes bestiais inflamam as galeras no arraial
    Silêncio agora lá no ermo do espaço
    Desdobrado decadente esticado no varal das miríades
    Esse trunfo salutar e também atado em chaga enferma
    Prostrado arcado e desfolhado a míngua nas paineiras
    Vertiginoso destino arremessa-me á tambores tachibanas
    Aos gritos abissais emergido as crateras do acaso
    Ass: Λάδι Βιώσας

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