sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

História Infantil em versos: O Passarinho e a Minhoca

O Passarinho e a Minhoca

Onde o rio desemboca,
Onde a boca desenrio,
Anelídeo faz a toca
E o bico toca o pio.

Na tribo da alta oca
Morava um Passarinho
Que era amigo da Minhoca
Que almejava um ninho.

Passarinho que come pedra
É amigo de minhoca.
Voa sempre mais pesado,
Desejando ver pipoca
Pra comer ao invés de pedra...
Ou raiz de mandioca.

Ele é bobo, voa baixo,
Cabisbaixa asa coroca...

- Boa tarde, Passarinho!
- diz feliz Dona Minhoca -
Quero morar no teu ninho.
Vem você pra minha toca.

Passarinho quase ao chão,
Com o pedido da troca,
Pensa logo na decisão
E diz cansado à Minhoca:

- Não consigo mais voar
Ao meu ninho... aceito a troca.
Fiz o meu ninho com luxo
Com a fofa linha da roca
Pra construir o meu larzinho,
Pra comer muita paçoca...
Só vi pedras no caminho
E como tudo o bico emboca
Fui ficando pesadinho
Com a miséria dessa roça.
E agradeço com carinho
Sua proposta, tá, Minhoca?

Minhoca toda altiva,
Saindo de sua toca,
Diz adeus solene e viva
(nas amigas dá bitoca).

- Vou pra minha cobertura
No alto do teto da oca.
Lá Passarinho assegura
Que a vista até desfoca
Com o sol que como pintura
Dá o toque que retoca.
Sair de um subsolo
Onde o sol no solo nem toca
E subir um pouco na vida
É o que toda minhoca foca.

Passarinho não dá adeus,
Sua asa pesa e choca...
Os que o vêem pedem a Deus
Pra quebrar toda pedroca
Que nos intestinos seus
Passarinho assim estoca.

Mas em vão clamam os pios...
Passarinho se entoca.
Vai pra dentro em arrepios,
Enterrando-se na toca.

Lá de cima a Minhoca,
Luxuosa e deslumbrada
Nem vê que na sua toca
Ela vivia mais fechada.

Ela, de sua fachada,
Entre as linhas fofas da roca,
Olha o sol e a passarada,
Mas nem um pouco se toca
Que os outros não são camaradas
Como ela aqui se coloca.

Os índios daquela oca
Saíram da rede em alvoroço
Ouvindo a música que toca
Quando ave disputa almoço.

Não viram a triste e finoca
Se despedaçando em isca,
Mas ouviram da minhoca:
- Quem arrisca não petisca!
Sonhava com o alto da oca,
Onde o Sol a luz rabisca.
É o que toda minhoca foca
Quando na toca chuvisca...

Se debate, bate e soca
A traidora do amigo.
Foi trocar o seu abrigo...
Também deu-se mal na troca.

Antes o Passarinho
Tivesse papado a dondoca...
Tinha levado ela ao ninho
Calada no bico que emboca.

Amigo grande o Passarinho,
Que na falta de pipoca,
Respeitou-a com carinho,
Papando pedrinha e pedroca.

E hoje na tribo da oca
Há um ditado que assim medra:
Passarinho que come pedra
É amigo de minhoca.

Marcelo Asth

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