sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Poema: Colonial

Colonial

O café ferve, café torra e sobra borra. 
Palmeiras tremem no talvez de chuva grossa.
O vento vespertino onde quer que corra
Leva o cheiro do bule do fogo da roça.

Verão fazendo suar na fazenda.
Tépido rosto que acolhe a gota.
Verão soar mais tarde o som do grilo
E tudo aquilo que se colhe em brisa solta.

Soçobra a brisa no dente-de-leão.
Espalha a leve nuvem branca.
Só sobra a lisa haste no chão.
Espelha o olhar da moça na varanda.

O casarão onde o tempo não entra
Abre a boca na janela com cortina.
A parca luz no lusco fusco se sustenta.
Acolhe um bafo o cangote da menina.

Na paisagem um cavalo cansado.
Não se vê o cansaço do escravo do casario.
Da varanda a moça cansa na sombra mansa do telhado.  
Ali perto corre sempre o mesmo rio. 

Marcelo Asth

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