sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Poema: O Poeta e a Lua

O POETA E A LUA

A Lua se entrega como uma hóstia branca 
em comunhão com o mundo, 
beleza eucarística do Poeta. 
É partilha ímpar da natureza, 
o pão que alimenta o sonho dos pobres. 
O céu para a Lua é púlpito, 
sobe em esplendor em seu halo. 
A Lua de que falo se entrega de súbito e é divina, 
é sacra em decúbito, 
posta em seu altar, 
missa noturna.
A Lua se entrega.
É nela que se encontram os versos que o Poeta busca. 
Rochosa bola redonda,
brusca, bela, branca e envolvente. 
É a Lua que desperta o amor de toda a gente.
A Lua se entrega como um farol,
pequeno refletor do nosso palco.
Rouba o brilho do sol e pinta o mundo de prata, 
em fino talco.
O Poeta, agora, é quem se entrega. 
Lucubrador, divide a dor que nele existe. 
O Poeta é triste.
Sai à noite em busca de sonhos. 
Olha-se em seu grande espelho, 
lâmpada no céu, 
lucivéu
e pede um conselho.
A Lua se entrega, se abre,
como a rosa branca de mil pétalas,
num segundo.
A Lua divide com o Poeta, 
lá, bem em cima, 
no cimo do mundo, 
o sumo da poesia, 
a soma dos versos que ele pedia:
inspiração para a vida.

(2004)
Marcelo Asth

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