O POETA E A LUA
A Lua se entrega como uma hóstia branca
em comunhão com o mundo,
beleza eucarística do Poeta.
É partilha ímpar da natureza,
o pão que alimenta o sonho dos pobres.
O céu para a Lua é púlpito,
sobe em esplendor em seu halo.
A Lua de que falo se entrega de súbito e é divina,
é sacra em decúbito,
posta em seu altar,
missa noturna.
A Lua se entrega.
É nela que se encontram os versos que o Poeta busca.
Rochosa bola redonda,
brusca, bela, branca e envolvente.
É a Lua que desperta o amor de toda a gente.
A Lua se entrega como um farol,
pequeno refletor do nosso palco.
Rouba o brilho do sol e pinta o mundo de prata,
em fino talco.
O Poeta, agora, é quem se entrega.
Lucubrador, divide a dor que nele existe.
O Poeta é triste.
Sai à noite em busca de sonhos.
Olha-se em seu grande espelho,
lâmpada no céu,
lucivéu
e pede um conselho.
A Lua se entrega, se abre,
como a rosa branca de mil pétalas,
num segundo.
A Lua divide com o Poeta,
lá, bem em cima,
no cimo do mundo,
o sumo da poesia,
a soma dos versos que ele pedia:
inspiração para a vida.
(2004)
Marcelo Asth
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