domingo, 14 de agosto de 2011

Poema: Acalanto


ACALANTO
a Borlido Elias, meu pai
Boa noite.
Boi da cara preta.
E a voz soava grossa
Feito trovão.
E era o abrigo da noite.
E era o hipnótico ingresso.
E era a fronteira dos sonhos
Nos borbotões de minha infância.

Canto o acalanto do tempo.
A boca secreta do espelho
Verte o alento da memória:
Não sei de que sonho saímos...
De que trecho da história?
Ralenta a cantiga nossa
Como escansão mastigada...

Seu cabelo tingiu-se de preto
Como a noite e a cara do boi.
Brincamos de pai-e-filho.
A panela de pressão
Chia cheia de domingos.
Ainda estamos antigos.
O ainda não sei foi...

Subo em suas costas
De cavalo de brinquedo
E léguas andamos juntos
Cruzando frios relevos,
Sem ter medo das caretas
Das montanhas de Friburgo.
O galope soa forte,
Grosso feito trovão.
Ralento a nossa cantiga.
Você segura minha mão.

E antes que seu filho durma –
E que você durma também –
Lá vamos nós seguir outros sonhos,
Cantando pra bem mais além...


Marcelo Asth

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