terça-feira, 30 de agosto de 2011

Poema: Assalto


ASSALTO



A poesia assalta o muro como a hera,
rizoma no que sobe lenta,
furando em esforço sutil
o silêncio que ninguém escuta.

A poesia assalta a lua
pendurada na linha
que divide o céu do mar.
Tem tudo nas mãos -
na tênue divisão do mundo -,
quando as plêiades
e as anêmonas
dançam juntas
procurando devorá-la.

A poesia assalta bancos de praças
e foge pelas ruelas de sereno e frio,
assalta as massas, esquinas de rios,
desertos, delírios, desejos
e as flores de um canteiro.
A poesia se tenta em arrastão,
lenta assalta os prédios altos.
Por dez mil janelas cinzas,
adentra o espaço entre frestas
e presta invade quartos.

A poesia assalta o poeta
pela alma, pela calma, pela cama -
refém na hora do sono -,
cavando fundo o estado alfa.

A poesia assalta a folha em branco
e por descuido não vê
a armadilha surpresa:

O poeta se põe a escrever.
A poesia, por fim,
é presa.

Marcelo Asth

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