terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Sabedoria

SABEDORIA


A dois mil pés, abaixo do fundo improvável,
O bicho profundo soprou meu nome
E o silêncio o coroou na sabedoria.
A borbulha fétida dos gases mestres
Subia lenta nas correntes gélidas
E sacudia todo o bastante mar vibrando.
Bateu na cauda da baleia e nos trouxe mais um segredo do mundo.

Dois mil anos após,
Na praia congestionada de corpos,
Ardi meus olhos no sal da onda
Que me trouxe ainda vivo
Meu nome rasgado das bocas de outrora -
Abissal melodia lançada na areia.

Admirável proeza do tempo,
Fazer dos mistérios divinos
Algo velado, sereno e invisível no mundo.

Príncipe Orclã

domingo, 8 de dezembro de 2013

Tudo

TUDO

As veias da minha testa
Ponta dos galhos da árvore
Raízes engordando
Vasos no branco do olho
Canais dutos corredeiras
Cascas que envolvem o sagrado
Derramando e esquentando

Aquela onda batendo no peito
E o sal enchendo os olhos
Rodai moinho rodamoinho girando
A galáxia formando
Todo o pó liquidificando
Rodai espirais de encanto

O fluxo vibrando rodando
Nada está, estável, pés firmes mudando
A dança viva dançando
E a gente também cantando


Príncipe Orclã 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Vapor



Fui rasgando a seda que revestia o gozo -
Cobra na troca do espesso couro -,
Ardendo carne no oxigênio,
Queimando as bordas de estranhas vestes.

Despelar labirintos das cascas inertes,
A airosa pele antes esquecida.
Não mais andrajos, nem mais adornos...
Talvez a áurea da manta celeste.

Num movimento como o das dormideiras,
Minhas folhas foram tecendo tímidas
Rastros que abriam o delicado ventre
(Pra eu entender que por debaixo tinha
As muitas camadas e espaços entre).

E o poroso tecido que meu corpo abria
Sugou, como por osmose, o meu amor no mundo,
E fez com a luz, como com a clorofila,
Em devoção, devoração do Sempre -
Como animal bebendo o leite fresco cósmico,
Num estranho processo natural de cria.

Minha pele deu dois goles no rio, no vapor e na força
E nutriu-se verdadeira de poesia.
Não só meus olhos, que só me conduziam:
todo meu corpo comungando a vida.

Príncipe Orclã

domingo, 22 de setembro de 2013

CURA

CURA

Quem pula sem o preparo
É capaz de vomitar
Preparado divino
Faz sapo querer voar

Sansara cururu maracá 
Sara aqui cura acá
coração cura ação
Sapo pula ali e lá
Entre céu entre chão
Sansara roda na mão
Maravilha vi rodar


Ió Landa

domingo, 15 de setembro de 2013

Poema: Segredo

SEGREDO


- Cara, alho dourado no óleo!
(Olho você bolado com tudo refogando...)

•—•

O segredo do feijão moreno
É o louro.


Marcelo Asth

Girândola e farândola

um peixe esquisitíssimo de nome fascínio operante, abarcando todo o calor do poente na calma de uma poça gigante mar vivo, vindo à tona pra descobrir delícias e dar olhos no beijo de deus, cantando pro encanto da floresta da tijuca e às florações de todo tempo passado porvir. este peixe de escamas de olhos tudo avista antes de existir e depois parece que vai embora, mas ainda dedica mil olhos sobre ti, percebendo cada euforia de tua vida cada instante. se se olhas bem o que está ausente - e que mais brilha por ser essa distância que não se vê -, à espreita e dentro de ti esse bicho enigma se esconde, se revela sem ao menos mostrar-se, na magia da proxemia, escondendo-mostrando, do delírio triunfante e neutro de um algo fora. se precisares o teu parco olhar sob este estranhíssimo, ficarás deveras em zonzeio, que suas imagens se mutiplicam justapostas e se dividem estilhaços num além do percepto cerebral. sabes de um peixe, mas a característica maior de sua carestia repleta abundante é apenas um terço de qualquer partícula de um segundo teu - que é maior do que o triplo do universo que ousamos definir que conhecemos.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Poema: Poda

PODA


 A motoserra erra
Cortando o bem pela raiz?
Erra uma vez, duas, muitas -
E vão quedando galhos.

Quando árvore chora:
É poda!


Marcelo Asth

domingo, 1 de setembro de 2013

Poema: Ouvido Direito

OUVIDO DIREITO

A corda estica:
Pane na ventuinha.
Vou para o estado zunido da onomérica 
feérica pertipotérica histérica mente.
Sente asa de bicho alado dentro da orelha,
Centena de vôos na bateção...
Não sei se tenho ouvido direito -
Nem esquerdo mais -,
Mas tento o centro.
Abre-fecha movimento,
Pressão ou borboleta
Lenta-rápida, 
Como o início do som da cigarra
Indeciso com coragem.
Bulbo abrindo-fechando,
Balbuciando o estouro.
Pica-pau picareta,
Êta! Britadeira tiroteio de borbulha,
Rugido de porta velha -
Tem alguém morando na minha cabeça!
Otorrino pra não chorar...
O ronco-barulho de rede ia e vinha,
corda do barco estica crec-rói.
Pira na ventuinha.

Marcelo Asth


Hoje, desde as 7h da manhã, meu ouvido direito está pulsando num zunido insistente, coisa chata, preocupante. Zumbido doido, que não para, martela martelinho. Na verdade é um não-zumbido, pq não parece frequência de tv, raio catódico. É coisa de abre-fecha por dentro e, no ouvido, fica mais doido ainda...

Daí deu vontade de escrever impressões do que tá pulando na cabeça. 

Taí o poema:

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Você veio primeiro


Você veio primeiro.
Antes de existir, já existia
no canto de um pássaro inquieto,
nas águas mais apressadas,
no sol do mais vivo janeiro
e no vento-redemoinho
do mês do seu nascimento.
Reinaugurou a palavra amor
e deu a ela o redondo de um ventre.
Forçou os limites do abraço
e instalou riso e canto
nos ecos de suas palavras.
Você veio primeiro.
Sou eu a sua caçula.
Perdoe a minha insegurança
e dê sua mão de mais velho.
Me ensina a domar o fogo,
me ensina a pisar nas brasas
com a mesma graça.
Me ensina onde se esconde a alegria
e, se puder, me guia
até a morada de estrelas
em que repousa a sua cabeça.


29/6/2013


De Daniela Asth para Marcelo Asth

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Tombem

Que as crianças tombem -
Para aprenderem a andar.

Que também tombem os fortes -
Para conhecerem os fracos.

Que também tombem tumbas -
Para procurarem o espírito.

Que também tombem portas -
Para descobrirem formas.

Que também tombem mundos -
Para serem transformados.

Que também tombem Nada -
Para Tudo.

Teodoro Tombem

Poema: Percepto

PERCEPTO


Eu não acredito mais em nada:
Eu acredito eu tudo.
Entre indas e vidas,
Rodopiando mole como plasma,
Vendo tudo o que é pulso:
Fractais rosas máscaras tribais
Veado sapo coisa que não é descrita -

Tanta coisa distinta e
tanto tenta a tinta tonta,
Que titilo, cintilo ao senti-lo tinindo.
Mistério se apronta.
Tinha certeza - inda tenho dúvida...
Dádiva da vida - inda tenho dívida...
Abre um buraco e um mundo
Mente multidividida.

Ellós Forbetor

Poema: Muda

MUDA




Muda para plantar
Miúda muda surda
Espera cega enraizar
Muda duma árvore
Dura como mármore
Espera paciente
Muda a transformar

Raiz de muda afunda
Busca ar sob o chão
Água lhe toma inunda
Engrossa sobe do chão
Abduzida pelo sol
Presa no solo
 Entre energias
Nutre muda vira árvore vida
Semente muda
Somente muda
Para plantar

Pai Mulato

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Cavuca

Regando a terra que tenho que cuidar, participando da terra, na responsabilidade de cavucar a própria pele, a terra revirar, estando minhoca viva e presente, molhando o próprio duto no solo, cavando pra dentro de si mesmo, fazendo encontrar a luz, a réstia do sol bebendo o espírito. Trator da vida, derrubando tudo sem destruir, reciclar, fazer o movimento brotar, deslocar para caber, o caule ou qualquer outra coisa aparente. Tudo que se cria, brota, renova e pode ser banal por ser mais uma plantação, mais uma criação, mas criar é um espanto, é novidade sempre que se pode ser. É preciso responsabilidade para se plantar, terraplanar, terra plana, plena, tudo o que se cria se oferenda, oferta pros deuses que não tem nome, que moram no esquisito silêncio que não podemos ouvir. Pode-se abrir o ouvido da terra e plantar eternamente no silêncio. Pode-se comer a terra, se enterrar com impulso pra baixo, mas terá de se nascer, brotar, resplandecer. O intuito de tudo deve ser coerente, não no que se faz sentido, mas tendo por obrigação que ser verdadeiro.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Poema: Gangorra

GANGORRA

De um lado da boca,
Uma parábola ascendente.
Do outro lado, 
outra, descendente.
Uma gangorra desenhada em linhas
Decadentes.

Efervesce espumando 
cólera, 
alegria, 
gozo 
e medo,
Um coração que testa a si mesmo
Subindo e descendo
Os lados da mesma gangorra,
Condescendente.
 
E que transborda,
De repentemente,
Da borda da boca
E dos dentes.

Plínio Xavier

sábado, 15 de junho de 2013

Poema: a grande aranha

A GRANDE ARANHA

Imagine uma aranha-gigante -
Mas gigante mesmo! -,
Maior que o Pão-de-Açúcar.
Ela anda pela cidade,
Mas não é como monstro de filme.
Sua passagem gera comoção
E o impacto das patas no solo
Promove estrondos que ecoam
Como trovões distantes
De tardes mansas.

Oito muletas.
As pessoas apenas desviam
E saúdam a aranha e batem palmas...
Ela passa gigante e lenta
Por cima das ruas,
Dos carros,
Da cidade.

Calçadas permanecem plácidas.
Nada se altera.
A grande aranha entra
Na Praia de Botafogo
E parece que segue
Para a Baía de Guanabara.

Marcelo Asth

terça-feira, 11 de junho de 2013

Poema: CenáRio

CENÁ RIO

Essa liberdade que dói,
Falsamente esculpida.
Mortos nas gaiolas
Os pios de uma juventude esquecida.
A alfombra do tempo
Levemente revirada -
Os anos voltam como espirais.
Cerceadamente o gavião sobrevoa
E povoa de sombras
Os traços das ruas repletas.
A paz é apenas migalha de alpiste,
Pastiche de felicidade.

Éramos todos pulso
Na carne da cidade perdida,
Voando pelas ruas em busca de ar.
Essa revoada desmedida
Em meio a um erro de lástimas,
Essa brutalidade, essa pedra bruta
Retirada das paredes rasgadas.

Esse peso mal lapidado
Retrata em suas faces os tantos
Que se expõem no brilho
De um sonho.

Marcelo

domingo, 9 de junho de 2013

Poema: Espirais


ESPIRAIS

Surdo como o tempo
Nas borbulhas secretas do poente
À espera dos seres que me bebam
Lançando em espiral minhas partículas
Pros ontens, pros aléns,
Pra qualquer esfera estremecida.
E de lá os bumbos dos peitos
Recordarão do meu nome
E farão sentido 
Quando o sereno silencioso
Tudo consumir em mim.

Marcelo Asth

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Poema: É


É

.Eu me encontro é no desencontro.
.É no instável que me sinto pronto.
.Em início de frase é que uso ponto.
.É estando parado que mais fico tonto.
.É seguindo reto que me ponho torto.
.É sendo navio que me sonho porto.
.É estando vivo que me sinto morto.
.É estando vivo que me sinto morto.
.É estando vivo que me sinto morto.

Marcelo Asth
(2006)

Poema: Bodas de Sangue


BODAS DE SANGUE

Lá vem a velha requitivelha
Com a navalha para esconder...
Seu outro filho morreu em batalha -
foi a navalha que o fez morrer.

Seu filho novo tornou-se noivo
De uma mulher que quis o inimigo
Em seu passado tão mal passado
Que foi buscar pra ti um mais amigo.

Lembra que quando de casa sair,
Sai então como estrela.
Fartura de uva e rami!
Os frutos nascem para vê-la.

Tão bela noiva, tão desgraçada.
De um homem, de braços pobres
Para um braço rico que trabalha
Pra juntar seus ricos cobres.

Mas o amor - que traiçoeiro! -
Vem a galope num trote de arqueiro
Que em movimento acerta o peito em cheio
E trás de volta a moça ao seu recreio.

Então a nora vai-se embora
(é seu destino e agora chora),
Com um felino, pai de um menino
Que nesta hora está a ninar.

O cavalo não bebe mais a água,
A navalha não desfaz a mágoa.
Põe-se a triste mãe então a chorar.

Lá vem a velha requitivelha,
Não tem navalha para esconder...
Seus pobres homens foram em batalha,
Com a navalha que os fez morrer.

Marcelo Asth
(2007)

Poema: Poema do Instante


POEMA DO INSTANTE

Um instante só.
Eu, poeira das nuvens,
Entre sombras do tempo
A cumprimentar fantasmas
Numa rua molhada de chuva...
E os olhos fechados,
Para sempre.

Marcelo Asth
(2006)

Poema: Camelos


CAMELOS

As patas dos camelos
Pisoteiam areia em grão.
Andam léguas, amaciando caminhos,
Queimando no calor que sobe do chão.
E que corcovados montes nas costas
Sem Cristo pra abençoá-los...
Vão solitários, apenas vivendo pra andar.

Marcelo Asth
(2004)

Poema: Endorréico


ENDORRÉICO

Desfaz na foz
O leito e o jeito
De fazer curva
Da água turva
Que chega ao mar.
Mas que mistério
É o endorréico...
Rio desliza em liso desrio
E faz-se mar.
Dentro do mar tem rio.
Dentro do rio tem mar.

Marcelo Asth
(2006)

Poema: Suicídio


SUICÍDIO

Se senta no parapeito e pensa.
Sessenta segundos imersos no ar.
O mundo girando nos traz a tontura
De pensar.

Se tenta num súbito pulo...
Setenta segundos imerso no ar.
A mente pulsando nos traz a tortura
Do pesar.

Marcelo Asth
(2006)

Poema: Vento


VENTO

Eu vento
E só assim eu apago as lembranças,
Torrentes, borrascas, procelas,
Livro minha alma das celas
E reinvento a esperança.

Assim,
Dou o grito do século
Com um toque de lástima,
Faço escorrer uma lágrima
E eu inundo o deserto.

Eu vento
E só sendo vento
Eu sopro o lamento
Pra longe de mim.

Marcelo Asth
(2005)

Poema: Domingo


DOMINGO

Morreu em minhas mãos
Um domingo de sol.

Marcelo Asth
(2005)

Poema: Riacho


RIACHO

Acho que o riacho ri
Na perda entre as pedras,
No canto entre cantos,
No leito em que dorme,
Correndo, escorrendo.

Acho que o riacho ri.
Sim, ri.
Acho que ri de mim,
Mas ri baixo.

Acho que o riacho ri.
É o borbulhar das águas
Que ri das minhas mágoas.

Mal sabe o riacho que nasceu de minhas lágrimas.

Marcelo Asth
(2005)

Poema: Os Grilos


OS GRILOS

Onde estão os grilos de minha companhia?
Por quais outras trevas andam trilando?
Fico a esperar, contando estrelas...
O ócio do sofrimento
É descontentamento
E sinto falta dos meus grilos,
Minha distração na noite inquieta
Do meu coração ferido.

Marcelo Asth

Rio de Janeiro, 11 de março de 2007





Poema: Distração


DISTRAÇÃO

Emudeci porque murmurava meu nome.
Não sei se se lembra,
Mas vinha vestido de noite,
Olhos baixos, jeito frio.

Pediu a minhas mãos que o guiasse –
Seus caminhos eram tortos.
Eu me distraía.

Pediu a meus olhos
Que o iluminasse –
Era breu a noite sua.
Eu me distraía.

Pediu asas ao meu encanto –
Já me distraía tanto
Que tudo lhe concedia.

E já em outro tempo,
Envolto em outra magia,
De longe eu via
Você que voava...

Ainda me espanta!

E a distração era tanta
Que eu nem reparei
Que já te amava.

Marcelo Asth
(2005)

Poema: Quero


QUERO

Quero de Lorca, seu gris,
A melancolia de Clarice,
De Quintana, sua velhice,
De Vinícius, o amar feliz.
Quero a delicadeza da flor
Que é bela, mas me espanca
Com sua poesia.
Quero um mar de palavras
E eu, sendo ilha,
Brincarei nas ondas dos versos
Como fazia Cecília.
Escreverei minha tragédia,
Transcreverei o meu fardo
Com os arabescos das letras
Da pena do Bardo.
Quero a canção para o filho do rei
Que a aia de Quintana cantou à noite.
De Castro Alves, quero o açoite,
Que é seu grito pra liberdade.
Quero saber toda a verdade!
Quero cantar a primavera!
Quero os vermes de Brás Cubas
No enterro de minha última quimera.
As idéias novas de Arnaldo Antunes ou Melamed:
Eu quero! Eu quero! Eu quero!
Mas eu não sei a quem se pede.
Quero as pessoas de dentro de Pessoa,
Cada uma com um jeito.
Quero todo o amor do peito
De todos os versos que ouvimos,
Toda a dureza que lemos
Em Lara de Lemos.
Ouvir estrelas com Bilac,
Ter a esperança de Drummond,
De Gullar, o ataque
E rimar o que é bom.
Estarei sempre querendo,
Querendo atingir minha meta
E talvez com tudo isso,
Um dia me torne um poeta.

Marcelo Asth
(2004)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Poema: Movediça

MOVEDIÇA

Tudo quebradiço na frieza frágil.
Tudo é cansaço, areia movediça.
Nada é inteiro, falta um pedaço.
Laço que desfaz porque é de seda a fita.
Abraço que não traz porque a vida é seca.
Talha o solo ao sol porque a terra racha.
Acha que é porque a vida sempre é cedo.
Medo que desarma a alma surda, aflita.
Flauta que não canta porque sofre de asma.
Pasma quando vê que todo dia acaba.
Mágoa que derrete todo instante ameno.
Peno de saber que dia desses morro.
Corro até de mim, pois que, senão, me engulo.
Pulo do abismo, pois que, senão, eu vôo.

Gregório Binder




segunda-feira, 18 de março de 2013

Gás


GÁS

Eu estou triste 
como a música 
do caminhão de gás
Que vai fundo 
Nas entranhas
E em ruelas -
Roendo o dia
No mistério
Auto falante
Lá de trás,
Do outro tempo
Em que despenca
A poesia.

León Bloba

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Meu barquinho titubeia,
Dois furos no casco, um mar.
Baloiça delírio, no vento o destino -
Querendo instantâneo errôneo afogar.
Soçobra a cada manobra, desmonta.
Só sobram os dois furos perdidos no mar.
E eu, que ria o desespero, parei.
Deixei o meu riso ligeiro afundar.

Poema: Lei

LEI

Amar é lei.
Amarelei.


Cristinna Palhoça