sábado, 14 de agosto de 2010

CARTA DE BLOBA A MARCELO ASTH


Marcelo Asth,
utilizarei da maior franqueza a teu respeito. Não o conheço, nem sei se você existe, se é real. Acredito que sim. Dois meses que, toda noite eu recebo um poema teu por debaixo da porta. Isso tem me assustado. Sei que não é você quem entrega. Seria impossível. Quantas vezes não corri à porta, abri e não vi nada. Nada, além do envelope com uma poesia. Já chorei de desespero nos primeiros dias, mas depois fui lendo e me acalmando. Os poemas que chegaram nesse tempo estão na cama de cima do meu beliche. Meu irmão que dormia nela era poeta. É debaixo dela, entre o estrado, o lençol de elástico e o colchão que guardo todos os teus, pra esconder, guardar. Ninguém ia entender se eu falasse. A carta toda noite vem.

Queria te avisar sobre isso pois creio sinceramente que uma pessoa não seria tão engenhosa e maquiavélica a ponto de me deixar em neuroses.  Mas acredito mesmo que é inocente. Que elas aparecem aqui por algo maior, que passei a acreditar com o início dos envelopes. Tudo que vem acontecendo... as palavras, as fotos. De onde surgem as cartas??? É sempre quando eu sinto os primeiros vestígios de sonho. É sempre o mesmo som que faz no assoalho, é sempre a mesma tensão do acordar repentino, do coração batendo forte.  E dentro do envelope sempre vem uma foto. Acredito que sejam suas, mas elas sempre vem transformadas demais, coloridas demais. Eu gosto delas. Mas isso me assusta.

Reuni todos os poemas nesse tempo e transcrevi-os para este blog que criei pra registrar essa história estranha. Estou pensando em queimar estes poemas. Mas não queria perdê-los de todo. Não quero pensar que é meu irmão morto que as entrega. De onde ele te conheceria? Que ligação seria essa?

Os teus poemas que começaram a chegar, no início eram ternos, continham certa melancolia. Depois me visitaram alguns com conteúdo estranho, palavras que me provocavam e, aí sim, eu comecei a desconfiar dos vizinhos e passar dias em perplexidade. Mas moro num sítio, seria difícil uma daquelas pessoas entrar em minha propriedade, passar por várias portas trancadas até alcançar o corredor que leva a meu quarto, sem ranger a madeira da estrutura e sumir assim, de repente. Não adianta eu esperar o envelope chegar... é sempre quando eu começo a me desligar desse mundo, entrando em estado alfa.  

Acredito que por aqui, por este blog, não passe ninguém mesmo. Não vejo perigo em postá-los. Eles vieram como vento até a mim. E se alguém acessar esse espaço, que é virtual e não tem atrativos, vai ler dois versos e dar o fora. Não que você não escreva bem, mas é que ninguém mais tem paciência pra ler poesia. Eu gosto do que você escreve. Gosto muito de poesia. Até escrevia, mas parei quando meu irmão morreu.

De noite a gente fazia um jogo no escuro. Ele, na cama de cima, mandava uma palavra. Eu, outra. Daí a gente fazia poesia antes de dormir e devia sonhar mais do que outras crianças.

E venho digitalizando as imagens tuas que recebo pra pôr aqui. Elas são um tanto alteradas, às vezes pitorescas demais.

Caso você exista, comente esse post.
Com estranho afeto,
Bloba

P.S¹: essa foto que postei foi a última tua que recebi.
P.S²: criei esse blog e tenho assinado como Marcelo Asth.
P.S³: desculpe-me a liberdade em reuni-los aqui, mas não tenho como não dizer que eles também são meus. A partir do momento em que recebo, toda noite antes de dormir.

2 comentários:

  1. Querida Bloba, escrevo-lhe para dizer que o Marcelo Asth, cujos poemas e fotos vc está postando, existe. E digo mais, ele mora no Morro do Vidigal, e contribui fortemente para a emanação de grande energia que se potencializa em nossos dias e transformará todo o Rio de Janeiro, ou diria mesmo, o Mundo.
    Seus poemas são a expressão da essência de sua humanidade e suas ações na vida correspondem a cada verdade anunciada nas bela palavras que compõem sua obra. Pessoa de luz, traz a cada lugar onde está presente a áurea única que os grandes artistas possuem.
    O melhor de tudo isso, prezada Bloba, é que essa grandeza vem de atitudes simples, porém consistentes, quase mágicas de tão sutis.
    Tenho o privilégio de ser seu vizinho. Sou testemunho de suas alegrias e de suas tristezas, de sua luta pela vida, e sua renúncia pelo amor.
    Confesso-lhe, Bloba, que não conheço pessoa tão generosa, tão amiga,
    tão jovem, tão sincero, tão verdadeiro... tão simplesmente ele.
    Não me assusta que suas cartas cheguem da maneira que chegam à sua casa. O poder de suas palavras rompe as barreiras do ser. Elas só se explicam em lugares da alma, como nos sonhos.
    Obrigado por compartilhar seus poemas.
    ET. Suas fotos são reveladoras, adorei.

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