sábado, 14 de agosto de 2010

Poema: Mordente - Marcelo Asth


Mordente

O dente morde e finca
E o ardente molde fica.
Moldura dura sente,
A pele modifica.
Marca e abarca o mar
Da tua pele rica.

Eriça e atiça o pêlo
Pela treliça do apelo
Que é desenho do dente -
Delícia de envolto quente.
Volta o vulto da embocadura.
Outra marca da boca perdura
Em outra parte que a pele reparte
Pela trilha que a arte da boca dura
Desenha ao dar-te a senha em fervura.
Morde-se o amor de tanto se sentir calor
E de formar sem dor a forma de uma costura.

Num calafrio dormente,
Do quente que cala o frio
E do morder sem nexo,
Anexo de um arrepio,
Torno a te definir no sexo -
Que crio contorno convexo
No bojo do seio macio.

Quando amando,
Mordo-o em cheio.
Sei-o antes meio vazio...

No teto da boca contente,
Todo dente que tenta no tato
Assina com a tinta e retinta o acato:
Retrato do trato indecente.

Na atenta tatuagem que age em contrato,
Contato de dois depois conta o fato
Num ato de amor que arrebente,
Num pacto de amor que arrebate,
No desejo que a carne aqui sente
De um beijo mordente em combate,
Pedindo morder de repente
No encontro que acaba com a gente em empate.

Marcelo Asth

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