sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Dois Poemas: Memória e Visitantes - Marcelo Asth


Memória

Prefiro que você não repita.
Que não mais me pronuncie,
Que tua alma de perto me fita.

Que no ato eu te crie
Na tentativa da visita,
Onde a meada ainda se fie
E a história não é dita.

Quando o medo do futuro nos sorri
A proximidade incita
A palavra que vicie.

Na tua falada escrita,
Na nua memória que espie.


VISITANTES

Quando alguém me visita
O corpo se excita,
Te cita empolgado.

Quando alguém está do lado de fora,
Por dentro, me sinto de lado.

Antes de amantes,
Talvez visitantes
Do instante do outro.

Isolados nos enfados,
Amores configurados,
Enfadonhos desolados.
Disputa na luta, nos dados.

Vinte andares adentram verticais.
A vida lá fora, distante demais.

O que não se pode falar
Não é dito jamais.

Um pingo de chuva na língua,
Vontade pela metade tua.
A vida se torna domingo
Quando míngua a chuva na rua.

Reviro retratos, gavetas,
Desfaço meus tratos nas tretas.
Palavras de fato são setas.

São tantas que furam incertas...

Além de uma porta há limites.
Mente, fogos, dinamites.

Mente detalhes, palpites.
Minto retalhos - ficamos quites.  

O passado não é firme, é torto,
De mensagens indevidas.
Será quem fica absorto
No aborto das lembranças idas? 

Futuro é esse filme turvo
De imagens descabidas.
Será a quem que me curvo
Quando vivo em duas vidas?

Marcelo Asth








Eu tenho sentido uma invasão de visitas. Porque palavras surgem pela nesga de luz que passa abaixo da porta? Eu não tenho medo de desconfiar da realidade.

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