domingo, 22 de agosto de 2010

Poema: Jangada - Marcelo Asth


Jangada
Canção do Náufrago - Poema Épico

Dei pra fitar meus olhos transatlânticos
Na jangada, que brava, percorre teu mar.
Cantar de improviso algum cântico
Em prol do meu remo, do sol e da proa.
Três horas eu dei pra ficar
Perdido na água de sal numa boa,
Miolos tão quentes a me provocar:
“Naufrágio celeste, morrer no teu mar...”

Minha jangada é firme,
Lambe os seios das ondas.
Delírios como num filme
Transformam-na em gôndola.

Horas de sol, horas a fio...
O meu relógio é o sol a pino,
A falta d’água, meu desafio.
Cantando alucinado, desafino.

Minha embarcação que, breve,
Brava destemida tão leve,
Irá abarcar-se na primeira ilha,
Radiante sobre as águas
Passa muitas milhas.
No mar de minhas mágoas
Por mais de mil trilhas,
Cavei com meu remo a distância do ainda.

Dez horas eu dei pra ficar
Cantando no riso teu canto,
Perdendo a cabeça no mar,
Tão infinito de espanto.

Contar pelo riso semântico
Letras de tuas águas.
Formar gritos de socorro
Em prol da solidão das tábuas.

Delírio de estrelas,
Noite soberana.
- Quando quiser vê-las
Abro a mente insana.

Janela incandescente
É o olho que tudo vê,
Mas nada mais sente
Do que o longe esmaecer.

Doido de enjôo e arrepio
Meu corpo queimado e doído,
Clama de amor e de frio
Rolando na água esquecido.

No mar impossível, este teu,
Largando o meu corpo pra ti,
Devoram-me os peixes daqui,
Do mar denso e gélido que me deu.

Dei pra fechar meus olhos transatlânticos
E emudecer minha boca tão cheia de cânticos.
Minha jangada se encontra perdida no ainda...

Marcelo Asth



Quando o envelope chegou, levantei automaticamente para ler o conteúdo. Mas esse poema é longo demais. Não consegui terminar. Dormi, acordei e li novamente, às 10h da manhã, no sol do inverno, ao som de muitos passarinhos nas árvores que vejo da janela. Aí gostei bastante dele, do poema. Pintei meus olhos com tinta, improvisei um mar com dois baldes d'água, coloquei às alturas Dvorák e cantei esse poema em voz alta, frente ao espelho, por mais de três vezes consecutivas. Depois tomei um banho e pensei em praia, em comer peixe. Bloba quer descanso. 

Será que se eu tirar alguns dias em outra cidade os envelopes ainda assim me seguirão, Marcelo Asth? Desafio! Tiro férias!

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