quarta-feira, 27 de abril de 2011

Poema: Veleidade



VELEIDADE

Me permita despedir,
Alguém me chama ao longe.
Deve ser a voz
de alguém que mora perto,
dentro do meu ser,
que é um longo deserto,
que decerto é onde
o ser se faz concreto,
na realidade que em mim se deu.
Pode ser Deus me chamando,
pode ser loucura,
pode ser verdade,
ou até imatura minha felicidade
de ouvir sua voz
toda desmedida
num murmúrio quente,
numa veleidade
de chamar meu nome
só pro seu recreio -
mas eu não receio seguir o seu tom.
Ouço essa voz que falo
em som de despedida,
minha sorte é grande,
meu azar na vida
é não ter quem mande
no meu coração.

Me despeço lentamente,
Pode ser que a gente
Esbarre de repente
Na contracorrente,
Na reviravolta
De uma outra estação.
Pode ser que na viagem
Carregue bagagem,
Pesos de uma vida,
Toda falsa imagem
Que a mala iludida
Não se importa ainda
De ter que portar.
Digo adeus
Sem ter certeza
Que a voz de um deus
Provém da natureza
Que ecoa dentro
Desse torto centro
Em mim sem direção.
Sigo sem ponteiros,
Bússolas, mapas, roteiros,
Passos, solas, pés inteiros,
Sinto só o nó da solidão,
Mas que não é nada
Que me prenda forte,
Que me deixa solta,
Que me deixa sendo,
Que me deixa fraca
E que não me revolta -
Segue sem sentido
Sem se ter precisão -
Sou só um ser só no mundo
Como se um segundo
Que dentro do tempo
Nunca é fixado,
Nunca se faz pêndulo,
Nunca é parado
Na presente ilusão.
Quero entender o medo,
Dançar em segredo,
Porque a voz que canta
Conta com os dedos
Quantas notas faltam
Pra notar quem sou.
Tempo de uma melodia
Que a marcação adia
Em se musicar completa,
Partitura desconexa,
Festa de sonoridade,
Resto desta alegria
Que não se encontra em mim.
Vou em direção assim
Num poço tão profundo
Que não tem mais fim
Do que o fim do mundo
Que acaba com tudo
Que chama por mim.

Dinorah Lima


Ai, Dinorah. Não entendo seu enfado. Será que sofre ou finge sofrer? Será que se despediu mesmo, foi viajar, se conhecer? E como chegou a mim? Não sei se a conheço, se preciso conhecê-la de alguma forma e ter pena dessa solidão. Hoje este poema me chegou, mas não cheguei a ele. Ainda não.

Bloba

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